Meu trabalho com engenharia de software começou na faculdade no Núcleo de Tecnologia Pedagógica em dois mil e três onde pesquisei e implementei interfaces gráficas para a alfabetização de crianças com deficiência auditiva. À época, o termo E-Learning ainda não era tão difundido, mas não demorou muito para a consolidação do EAD (Educação à Distância). Apesar de algumas referências no meio acadêmico, o aprendizado à distância ainda era tópico experimental no Brasil e entendido como ferramenta auxiliar, ou de reforço, ao ensino tradicional. Também, os computadores ainda não eram tão acessíveis e a internet tão pouco. Apesar da paridade do Dólar com o Real, um bom computador não sairia por menos de dois mil Dólares (por curiosidade o salário mínimo era R$260,00 em 2004).
Trabalhei especificamente com EAD até dois mil e dez. Passei pelo Centro de Tecnologia Educacional do SENAC onde se produzia a modalidade corporativa do EAD, os cursos de boas-vindas às empresas, ensinamento de processos específicos ou conhecimentos exigidos por compliance; quem trabalha no setor financeiro, certamente já fez o curso de Lavagem de Dinheiro e Anti-fraude, assim é o EAD corporativo. Em dois mil e oito vim para São Paulo onde fui gestor dum projeto bastante interessante; um pré-vestibular online gratuito. Fomos pioneiros nas aulas ao vivo com lousa digital, streaming era um baita problema, utilizamos o Flash Server, tecnologia que ninguém nunca mais ouviu falar, mas estava lá e funcionava, chegamos a ter milhares de alunos. O projeto ficou na lista dos cem melhores pela Fiesp.
Atuando como freelancer, desenvolvi quatro plataformas EAD para o Sinpeem, sindicado dos profissionais da educação, passei por empresas grandes e pequenas. Em dois mil e treze entrei na GP Cabling, distribuidora do segmento de cabeamento estruturado, desenvolvi um e-commerce para os mais de sessenta mil clientes da empresa, fiquei lá sete anos. De dois mil e quatro à dois mil e vinte minha experiência foi na Educação e Comércio.
Desde então, trabalho no setor financeiro com aplicações distribuídas de alta disponibilidade. Movimentação financeira, conta-corrente, consolidação de saldo, valores, etc. O assunto se torna mais específico, mas não menos interessante. A base do setor financeiro é a confiança. A confiança entre cliente e instituição, entre funcionários e acionistas, entre instituição e movimentações, entre clientes e clientes. Há uma certa idéia de que seja um setor bastante careta, pouco criativo, mas isso não é verdade. Há poucas pessoas dispostas a ensinarem o que sabem, argumentarem e defenderem suas soluções, isto dá uma certa idéia de que o trabalho seja mais fechado, rígido.
Há um certo estafamento, e parte disso se dá pela complexidade, incerteza do fim de um projeto, que persegue constantemente o trabalho do engenheiro de software em qualquer área. Isso faz parte da natureza do nosso trabalho. Quem nunca viu o colega que fez da reunião um desabafo, ou nós mesmos? Mas é possível lidar com as mudanças de especificação sem que isso seja motivo de desânimo.
Toda solução de engenharia existe para resolver algum problema, se você não sabe qual problema essa solução resolve, você não sabe exatamente o que está resolvendo. Portanto, não se trata apenas do que a solução entrega e, em geral, é aí que estão as inconsistências e daí vem o ditado: para o martelo, todo problema é prego. Parece bastante óbvio mas quando se está imerso num projeto isso nos escapa e queremos do modo mais direto possível resolver o problema com a primeira solução que parece resolvê-lo sem nos atentarmos que podemos estar criando mais problemas ao utilizar uma solução inadequada.
Meu objetivo é continuar o que faço há duas décadas: ensinar o desenvolvimento para que os interessados possam aprender também a ensinar, compartilhar e apresentar suas soluções e idéias para que assim possam ampliar a confiança no trabalho, tangibilizar projetos e ampliar os esforços colaborativos.
Seja bem-vindo!